sábado, 4 de agosto de 2007

pessimismo ou realismo?


Viver no mundo é uma coisa triste. A angústia parece ser uma eterna companheira de um ser que possui suas funções psicológicas em condições perfeitamente naturais, aquilo que se cria em todos aqueles que têm desejos. A distância entre aquilo que desejamos ter/ser e as possibilidades concretas de que isso se torne real são a fonte de todos os nossos males interiores. Estar no mundo é uma tarefa bastante desenganadora para os nossos desejos, que quase sempre estão além daquilo que temos possibilidade de satisfazer. A vida é fonte de dores, não consigo compreender como que tantas visões de mundo que pregam um falso otimismo conseguem granjear tão grande aderência por parte das pessoas em geral. Uma necessidade de auto-engano bastante débil, visto que incita um renovar de estados de espírito que dificilmente entram em consonância com as reais possibilidades de concretização dos anseios que esses mesmos estados de espírito criam. Dos desejos brotam todo mal. O que é a felicidade senão o encontro com algo que destoa daquilo que normalmente acompanha a vida de uma pessoa, ou seja, as dores e as instabilidades emocionais? O mal da felicidade é que aquele momento de bem estar causado pela frequencia emocional que se percebe nesses momentos, acaba servindo de parâmetro para a mensuração das outras circunstancias que nos acometem, sendo estas dificilmente tão aprazíveis quanto o que ocasionou esta situação de bem estar que um dia tivemos. Por outro lado, a partir do momento em que o motivo de uma felicidade passa a se tornar repetitivo, ele deixa de ser um motivo de felicidade, pois nada de habitual nos traz a esse estado de espírito e os motivos para que alguém prolongue seu ânimo geralmente são muito escassos ao longo de uma existência. A morte é um bicho sádico, poderia ela tornar as coisas muito mais fáceis se resolvesse agir de forma piedosa, o que parece é que somos tratados a maneira de peixinhos num aquário, servindo de cobaia aos mais diversos tipos de experiências antes de finalmente se vir a tona o motivo e a finalidade a qual se destina todo tipo de forma de vida, que é o reencontro com o inanimado. Schopenhauer dizia que se algum deus realmente existisse, deveria ter um sentimento de culpa por interromper absurdamente o "sono tranquilo do nada". Viver é uma tarefa muito ingrata, ao invés de sermos postos a salvo disso logo enquanto ainda não acumulamos as desilusões que vêm do mundo, somos tomados por um ardiloso instinto de sobrevivência, que gera o ensejo de onde provêm toda panacéia otimista a que somos constantemente bombardeados. Dificilmente se percebe que isso apenas amplia o fluxo de desejos que são continuamente renovados para fazer os sofrimentos serem, na mesma proporção, realimentados. A forma como os santos e os monges vivem, me parece ser exemplo para as pessoas que são a todo tempo assoladas com as desventuras mundanas. Conseguir tornar as vontades redutíveis ao nada, suprimi-las e torna-las impotentes frente aos nossos anseios, seria uma saida razoável para que todos estes males tenham fim. Aprender como se faz isso é coisa que eu muito me interesso em saber.

4 comentários:

caso.me.esqueçam disse...

há muito pra se comentar sobre esse post. porque acredito que tristeza não é de todo ruim, mesmo quando você não consegue controlá-la. acredito ainda mais que, quando triste, o ser humano vê tudo com maior beleza e encanto. alegria idiotiza as sensações, tudo é bonito, é colorido, é interessante. tou longe de ser uma pessoa depressiva, mas me sinto mais confortável quando estou inconsolável (até porque é bom que eu me acostume a esse estado já que o mundo nos leva constantemente a ele). o difícil não é dissipar esse estado, é saber controlá-lo. seria uma tragédia se vinícius de morais não soubesse se utilizar da sua tristeza. o samba seriam bem menos samba. ;)

um abraço!

luciola
http://www.circosemfuturo.blogger.com.br

caso.me.esqueçam disse...

ah, sim, antes que eu esqueça... você faz história? achei o blog no orkut e vi que temos muitos amigos historiadores (ou perto disso) em comum.

Ana Carla, disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ana Carla, disse...

Bernardo Fernandes dialoga e refaz a mesma jornada intelectual do camarada bebum Shope e sintetiza as divagações vaga mundanas do silêncioso e igualmente pé de cana Samuel Beckett.
Poxa moço,deixa pra lá o 7º selo, as flores partidas e as lágrimas amargas por + uma vida menos ordinária apenas la dolce vita + todas as considerações antes,durante e depois do por-do-sol + curtir a vida adoidado + + + = O iluminado (assim é melhor) haha....me disperso agora com uma das falas do livro Fim de partida do Samuel Beckett

"A gente chora, chora por nada, para não rir, e aos poucos vai se sentindo triste de verdade.


p.s/:no fundo depois de ter escrito isso vc apartou as mãos da tristeza e foi feliz ;-)