quarta-feira, 5 de setembro de 2007

entre mim e o gato




estive vendo ultimamente uma série de animais nas ruas, e a quantidade de marcas que eles apresentam em seus corpos Marcas estas que são resultado do embate com os humanos, em grande parte... me lembrei de cenas de quando eu era pequeno, fazia algo em torno de segunda série primária, e no intervalo da escola onde estudava, tinha um rapazinho da oitava série que gostava de me encher o saco sempre que sentia necessidade de divulgar ao mundo os limites de seu retardamento... ele sempre fazia com que fossem promovidas atividades com o intuito de medição de força, habilidade e destreza e enfim, coisitas desse tipo que eram sempre efusivamente solenizadas em suas reações ao ver que se seu desempenho foi mais satisfatório... nunca entendi bem as motivações que o levavam a isso. Eu que era sempre o alvo da implicância não tinha como escolher não acatar às provocações em meio as diversas formas de pressão psicológica que surtem efeito em qualquer moleque , era chamado de viadinho, de merdinha e uma série de outras coisas que, ao olhar do autor dos adjetivos, eram sinônimo de inépcia e incapacidade... do garoto de 8ª, além de amostra de insegurança e falta de uma auto resolução, penso que isso aconteça em função de uma característica que me era própria, e que tambem se manifesta com muita frequência nestes bixanos: a indiferença. Indiferença que é agressiva e insultante... em meio ao mais diversos balançadores de ovos que os rapazes das séries mais adiantadas possuiam entre os gurizinhos que se espelhavam no modo de vida dos machos dominantes do local, eu gostava de me sentar num banquinho escondidinho tomando a minha caixinha de leite com tody que eu levava em minha lancheira... depois me sentava em baixo de um pé de caju, onde eu coçava o saco enquanto observava o movimento. Meus coleguinhas de sala todos giravam em torno do grupinho deste rapaz mais velho... coisa que eu não era muito afeito, até que as consequências de ser meio "outsider" começaram a aparecer bastante cedo... enfim, princípio semelhante rege a vida do gato, animal que, não tem tanta necessidade de andar em bandos, sobrevive sozinho com facilidade e possui um ar de auto-suficiencia que para muitos é dificil de tolerar. Pois bem, nas ruas sempre que eu olho pra um bicho desses carregando alguma forma de estropiação em seu corpo, lembro destes episódios de infância... que dizem muita coisa a respeito da vaidade das pessoas...

sábado, 1 de setembro de 2007

o mundo dos (des)afetos


Estive vendo o quanto é comum de pessoas a que eu tive um ciclo de amizade bastante atraente, após algum tempo passam a não fazer mais parte do grupo de pessoas a quem eu tenha mais alguma oportunidade de dedicar algum afeto... é difícil como que pessoas próximas em um momento, deixam de lado essa proximidade muitas vezes ou na maioria das delas, sem nenhum motivo aparente, como uma briga, discussão ou algo do tipo. Assim como as diversas coisas que um dia pareceram tão sólidas, repentinamente, ou gradativamente, foram se desmanchando. Situação que até certo ponto pode ser um movimento natural das coisas, a anulação de relacões que se contraem durante o nosso tempo de vida pode se tornar em algo extremamente saudável, dependendo dos caminhos que se decide seguir, que muitas vezes são incompatíveis com o tipo de relação que se deseja ter com uma pessoa, mas, penso que exista algo muito mais profundo e não imediatamente visível nessas coisas, uma certa índole que é estimulada pelo modo de vida que usualmente se tem e que torna inviável o estabelecimento de vínculos mais duradouros entre as pessoas. Não é preciso recorrer a Sócrates para ter idéia do quanto isso é resultado de uma construção gradual, que demanda um esforço e provêm de uma necessidade. O que é gritante hoje em dia é o quanto que as pessoas possuem uma distância emocional que cresce na medida em que a urgência de suas necessidades de afeto permanecem inalteradas.Não falo apenas dos relacionamentos entre casais, mas generalizo para todas as demais formas de manifestações da afetividade. O que se torna imediatamente evidente é o quanto os comprometimentos em uma relação nos da uma incomoda sensação de que há portas sendo fechadas para outras possibilidades. O imediatismo a que estamos submetidos nos faz prestar mais atenção nas impossibilidades de renovação de estímulos prazeirosos do que na conservação de algo que se poderia ter uma solidez aconchegante. Como resultado disso, a melhor forma de se manter uma relação duradoura é diminuindo o máximo possível os compromissos que nela poderiam haver, pois na medida em que elas impossibilitam novas sensações, se tornam absolutamente desnecessárias e passivas de rompimento. Os nascimentos e mortes são acontecimentos únicos, mas os afetos estão cada dia sendo renovados em nossas vidas.Isso acontece principalmente nesses tempos em que as relações entre pessoas pertencem a mesma lógica existente das relações com as mercadorias, sendo a próxima sempre mais interessante que a atual, que por sua vez,torna-se também mais interessante que a anterior. Uma espécie de rotatividade do consumo de pessoas e de estímulos prazeirosos. Segundo esse espírito de época, os vínculos são como coisas impuras em um mundo consumista, que condenam à obsolescência as pessoas/mercadorias a partir do momento em que estas são usufruidas, sendo as necessidades e demandas de mercado o padrão de durabilidade das relações humanas. Os personagens que atuam no teatro consumista, são os que têm recursos suficientes para colocarem-se dentro destas práticas de consumo, sendo seus movimentos todos baseados na constante renovação. Coisa que vale tambem para os homens, onde o que predomina é o permanente esmaecimento dos afetos. Não sou um defensor da estruturação sólida e permanente dos vínculos humanos, tenho a noção do quanto que as interações entre as pessoas são perpassadas por desordens que se afloram dentro das áreas de expontaneidade e imprevisibilidade dos convívios. Mas tambem me incomoda ver o quanto que as pessoas são julgadas pelos termos de prazer que delas pode ser extraido, a ponto de muitas vezes a solidariedade entre elas cair em desuso, sendo todos os relacionamentos engendrados na medida da conveniência, levando em conta apenas o que se tem possibilidade de ganhar com relação a isso. Enfim, essas são as bases do mundo em que se vive, a lei do cão. Não há possibilidade de tentar viver de outra forma pois isso significa ser passado pra traz, idealizar uma prática que não se ajusta a forma como o mundo se apresenta é ingenuidade. A melhor forma que eu encontro de lidar com essas coisas quando a crise existencial vem e arrebata é a reclusão. O que não exclui certas noitadas regadas a cervejas, vinhos, cigarros e mulheres, coisas que deixam pelo caminho as sobras dos prazeres voláteis que lubrificam as engrenagens do mundo em que vivo, me deixando a sensação de um mal ao qual nada posso contra ele, e ao mesmo tempo não tenho capacidade nem de me juntar nem de me opor...