sábado, 1 de setembro de 2007

o mundo dos (des)afetos


Estive vendo o quanto é comum de pessoas a que eu tive um ciclo de amizade bastante atraente, após algum tempo passam a não fazer mais parte do grupo de pessoas a quem eu tenha mais alguma oportunidade de dedicar algum afeto... é difícil como que pessoas próximas em um momento, deixam de lado essa proximidade muitas vezes ou na maioria das delas, sem nenhum motivo aparente, como uma briga, discussão ou algo do tipo. Assim como as diversas coisas que um dia pareceram tão sólidas, repentinamente, ou gradativamente, foram se desmanchando. Situação que até certo ponto pode ser um movimento natural das coisas, a anulação de relacões que se contraem durante o nosso tempo de vida pode se tornar em algo extremamente saudável, dependendo dos caminhos que se decide seguir, que muitas vezes são incompatíveis com o tipo de relação que se deseja ter com uma pessoa, mas, penso que exista algo muito mais profundo e não imediatamente visível nessas coisas, uma certa índole que é estimulada pelo modo de vida que usualmente se tem e que torna inviável o estabelecimento de vínculos mais duradouros entre as pessoas. Não é preciso recorrer a Sócrates para ter idéia do quanto isso é resultado de uma construção gradual, que demanda um esforço e provêm de uma necessidade. O que é gritante hoje em dia é o quanto que as pessoas possuem uma distância emocional que cresce na medida em que a urgência de suas necessidades de afeto permanecem inalteradas.Não falo apenas dos relacionamentos entre casais, mas generalizo para todas as demais formas de manifestações da afetividade. O que se torna imediatamente evidente é o quanto os comprometimentos em uma relação nos da uma incomoda sensação de que há portas sendo fechadas para outras possibilidades. O imediatismo a que estamos submetidos nos faz prestar mais atenção nas impossibilidades de renovação de estímulos prazeirosos do que na conservação de algo que se poderia ter uma solidez aconchegante. Como resultado disso, a melhor forma de se manter uma relação duradoura é diminuindo o máximo possível os compromissos que nela poderiam haver, pois na medida em que elas impossibilitam novas sensações, se tornam absolutamente desnecessárias e passivas de rompimento. Os nascimentos e mortes são acontecimentos únicos, mas os afetos estão cada dia sendo renovados em nossas vidas.Isso acontece principalmente nesses tempos em que as relações entre pessoas pertencem a mesma lógica existente das relações com as mercadorias, sendo a próxima sempre mais interessante que a atual, que por sua vez,torna-se também mais interessante que a anterior. Uma espécie de rotatividade do consumo de pessoas e de estímulos prazeirosos. Segundo esse espírito de época, os vínculos são como coisas impuras em um mundo consumista, que condenam à obsolescência as pessoas/mercadorias a partir do momento em que estas são usufruidas, sendo as necessidades e demandas de mercado o padrão de durabilidade das relações humanas. Os personagens que atuam no teatro consumista, são os que têm recursos suficientes para colocarem-se dentro destas práticas de consumo, sendo seus movimentos todos baseados na constante renovação. Coisa que vale tambem para os homens, onde o que predomina é o permanente esmaecimento dos afetos. Não sou um defensor da estruturação sólida e permanente dos vínculos humanos, tenho a noção do quanto que as interações entre as pessoas são perpassadas por desordens que se afloram dentro das áreas de expontaneidade e imprevisibilidade dos convívios. Mas tambem me incomoda ver o quanto que as pessoas são julgadas pelos termos de prazer que delas pode ser extraido, a ponto de muitas vezes a solidariedade entre elas cair em desuso, sendo todos os relacionamentos engendrados na medida da conveniência, levando em conta apenas o que se tem possibilidade de ganhar com relação a isso. Enfim, essas são as bases do mundo em que se vive, a lei do cão. Não há possibilidade de tentar viver de outra forma pois isso significa ser passado pra traz, idealizar uma prática que não se ajusta a forma como o mundo se apresenta é ingenuidade. A melhor forma que eu encontro de lidar com essas coisas quando a crise existencial vem e arrebata é a reclusão. O que não exclui certas noitadas regadas a cervejas, vinhos, cigarros e mulheres, coisas que deixam pelo caminho as sobras dos prazeres voláteis que lubrificam as engrenagens do mundo em que vivo, me deixando a sensação de um mal ao qual nada posso contra ele, e ao mesmo tempo não tenho capacidade nem de me juntar nem de me opor...

2 comentários:

Ana Carla, disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ana Carla, disse...

acho que chega uma hora que as coisas vão mudando,os interesses... Ôo
e daí tem que passar um tempo sem se ver ;P
mas que eu tenho saudades...
ah... eu tenho :/ mas a gente tem saudade deles,mas sera q eles tem da gente?sera q ele ainda se lembram da gente?creio que sim.
justo numa época em que as relações são tão liquidas e frágeis e os amigos passageiros parecem ser tão constantes.ser passageiro é triste mais acontece...
É a vida!